14 março 2014

Tempos de preconceito





Em tempos modernos, como diria minha avó, achei que certas coisas seriam extintas, como o preconceito por você ser daquela cor,  ter aquele cabelo,  ser daquele tamanho ou vir daquele país. Infelizmente isso não ficou pra trás. E continua perseguindo pessoas comuns. Depois de um rapaz ser preso injustamente (o culpado foi achado) por se parecer com um bandido que se acabara de furtar uma bolsa com celular e dez reais de uma empregada doméstica, tivemos um jogador de futebol humilhado em um jogo onde pessoas imitavam os sons primitivos de macacos, se não bastasse isso, um árbitro de futebol teve seu carro danificado a pontapés, e bananas espalhadas pelo carro inclusive no cano de descarga, pior foi uma australiana que não queria uma pessoa negra encostasse nela em um salão de beleza surtou e tiveram que chamar a polícia porque chegaram as vias de fato (luta corporal).

Pois é e estamos apenas em 2014, onde todos tem acesso a informação eletrônica ou não, e somos mais esclarecidos (eu pensava assim).
Sou descendente de india carájá, minha mãe filha de uma Carajá com homem branco foi criada pela familia dele. Morena com os traços de india, cabelos escuros e lisos, já sofreu preconceito a ponto de entrar em uma loja e perguntar o preço de algo, e lhe responderem que ela não teria dinheiro para comprar aquilo, ou de pessoas tocarem a minha porta e perguntarem: " a dona da casa está?". Isso por sermor morenas! Algumas pessoas perguntam se usamos perucas ou se minha mãe alisa o cabelo, e fora do comum mais ainda há esse tipo de preconceito.
Em Luanda sofro esse preconceito, porque na cabeça deles minha mãe seria uma negra que dormiu com um branco, gerando uma mulata, um "produto" de menor valor... Alguns me chamam de branca (sou mais branca que o negro) e por isso acham que tenho mais dinheiro que eles. E um pensamento muito primitivo que confesso incomoda. Aonde esta escrito que ser desta ou daquela cor está errado, ou menos certo, ou estou abaixo na escala? Incomoda sim, a ponto de um dia ter uma discussão com uma pessoa por lá (sadia, como uma explicação) de que no Brasil, não existe essa comparação (pensava eu) e que eu era descendente de índios e blá blá... Alguns não entendem, e vez ou outra moças me param e perguntam onde comprei meu cabelo... (eles ainda não entendem que existem pessoas com cabelos naturais, mesmo morena como eu).
Pior passar o que passei ao entrar em uma loja na Noreuga em um shopping, bem movimentado, estava com minha mãe na altura, ela tinha ido para meu casamento, era uma loja de sapatos (eu e meus sapatos) e a vendedora da loja, que estava sorridente conversando com umas pessoas, logo franziu a testa e veio em nossa direção nos vigiar, nos seguiu pela loja toda, em tempo havia outros clientes na loja mas ela ficou colada comigo e minha mãe, e so nos deixou quando deixamos a loja, falei com minha mãe, será que ela pensa que saímos lá do Brasil, para roubar um pé de sapatos (porque expostos ficam só um dos pés) minha mãe ficou encabulada e também um pouco irritada.
Outra vez, também na Noruega, em Bergen onde vivemos, estava no mercado porque tinhamos que trocar um sapato, que o marido comprou pra mim mas levamos dois pés esquerdos (...) e eu fiquei em pé proximo dele, e perto tinha uma prateleira só de sachês para aspirador de pó, eu fiquei olhando, aquelas bolinhas de varios cheiros, fazendo hora, enquanto ele explicava a senhora o que se passava com o sapato. E acabei não percebendo que o marido saiu, e eu olhando ali aquelas bolinhas, os diversos cheiros e tal, só me dei conta quando dois rapazes que trabalham ali, vieram me abordar e perguntar se precisava de algo, eu disse que não e que estava e falei estou so esperando o marido trocar algo, e quando olhei ele não estava mais ali, os rapazes não se deram por vencidos e me seguiram, a distancia até o momento que me juntei ao marido... Novamente uma situação embaraçosa.
Em outra situação, foi na família do marido, em que conheci algumas das primas dele, e no meio da conversa elas me perguntaram, mas você faz o que no Brasil, você não é africana? E fiquei com raiva óbvio, porque não tinha insinuado nada na conversa e elas chegaram a conclusão sei lá porque que sou africana, alguns colegas de trabalho do marido, ja acharam que eu era angolana também só porque falo português e sou morena, parece que as pessoas estabelecem um padrão para cada país.
Não existe padrão para nada, as pessoas não são daqui ou de lá porque são brancas ou amarelas, conheço muitos angolanos brancos, sul africanos brancos, essa e também uma pergunta que me fazem muitas vezes.
O que me incomoda e o olhar que as pessoas nos dão por me acharem diferente quando estou nas ruas em qualquer lugar do mundo.
Também há o preconceito por eu ser casada com alguém que não é brasileiro. As pessoas olham, comentam e cochicham e a gente percebe. Não vejo problema algum por não sermos da mesma nacionalidade, mas parece que muitos tem, e tiram suas próprias conclusões a respeito disso. Porque ninguém acha que tivemos uma historia, tiram suas próprias conclusões, aliás todo mundo sabe tudo.
A vida não deveria ser tão complicada assim a ponto das pessoas olharem o que e diferente com preconceito. Ser diferente do que você considera como padrão não deveria ser um crime. Não deveríamos passar por situações que nos deixam com vergonha.
Estamos em pleno século 21e  ainda temos que lidar com pessoas que acham que por serem brancas são superiores as outras. Pensam que os negros também não tem preconceitos? Mentira, os angolanos adoram fazer piadas e chacotas por exemplo com os chineses que imigraram em massa nos ultimos anos para a Africa de um mode geral (no safari que fizemos vimos chineses trabalhando em obras por toda a estrada mesmo fora de Angola).
O olhar diferente incomoda, independente do que a pessoa é, da deficiência ou escolha sexual. Ninguém é melhor que ninguém, temos que mudar essa atitude porque tenho essa cor, aquele carro sou heterossexual ou venho de tal família. Devemos dizer não ao preconceito, mesmo quando este parte de nós. Devemos nos policiar e  parar de tratar os outros diferente.

Um comentário:

  1. Olá!

    Carol, adorei seu post pois vc dá vários exemplos de xenofobia e preconceito que realmente não deveriam existir mais. Eu, particularmente, fico constrangida com a ignorância que muitos ainda expressam ao discriminar os outros, como se, por acaso, fossem superiores, quando somos todos humanos e merecemos respeito.

    Sei o quanto isso incomoda e nos entristece, mas é preciso se posicionar frente a essas pessoas e encará-las... quem sabe assim as ajudaremos a se educarem de uma forma mais evoluída.

    Beijooooooos!

    http://caseicomomundo.blogspot.com.br

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