Existem aqueles dias, em que nada que seja relativo a nós mesmas é bom o suficiente. O conhecido e mal fadado "Bad Hair Day" ou "Dia do pé esquerdo" pode chegar para qualquer uma de nós. Pode ser um cabelo rebelde, uma espinha que nasceu bem no meio do nariz, uma calça que não fecha mais, uma olheira que corretivo nenhum tira ou uma segunda feira de manhã anunciada de forma caótica pelo maldito despertador. Nós exageramos bastante em alguns momentos, mas isso tudo é normal e bem corriqueiro quando analisado pela perspectiva do universo feminino e suas inconstâncias.
Após um dia, algumas horas ou alguns chocolates depois, o momento do "Tudo Errado" desaparece e voltamos ao normal. Percebemos então, que o cabelo estava exatamente como no dia anterior, que a espinha não era tão visível assim, que ninguém consegue engordar 50 kg num simples fim de semana, que o corretivo não possui superpoderes para disfarçar nosso mal humor, TPM ou coisa que o valha, que Deus criou a segunda-feira e não tem jeito de anular "A CRIAÇÃO" e, que está na hora de trocar o toque do despertador, porque aquela música perfeita, elegida para o toque e incapaz de nos deixar irritadas ao sermos despertadas para mais uma jornada diária, deu o que tinha que dar e, a partir daquela segunda feira esquerdista, seu sucesso e favoritismo foram jogados pelo ralo do enjoô, mas graças a nossa autonomia e independência quanto ao gosto musical, temos o poder irrevogável de atenuar o mal humor modificando a música para terça e assim, sucessivamente, até enchermos o saco novamente... Isso tudo é bem familiar a todas nós, e ouso a afirmar que, naturalmente incorporado à nossa rotina de vida urbana.
Mas, infelizmente, para algumas de nós, esses momentos de insatisfação interna, insegurança ou auto estima baixa, são bem mais constantes e costumeiros do que deveriam ser. Atingem tamanha proporção ao ponto de modificar, ou melhor deturpar por completo a visão externa que essa pessoa tem para com o mundo ao seu redor. Fica tudo cinza.
Ultimamente, têm sido cada vez mais comuns e precoces, casos de meninas, adolescentes e mulheres diagnosticadas com o pior dos males, qual seja, a cegueira interior. A perda dessa visão pode acarretar diversos problemas correlatos: deturpação da própria imagem e perspectiva do que é real, exílio emocional, afastamento parcial ou total do círculo social, depressão, bulimia, anorexia, e tantos outros males conhecidos e tão terríveis quanto.
Em 2004, a marca "Dove", lançou nos EUA, uma campanha publicitária incomum e ousada, intitulada "The Real Curves". Mais do que marketing, a campanha revelou-se numa ação global com o objetivo de questionamento do padrão de beleza atual e quebra de seus esteriótipos contemplados a partir de um padrão inexistente da beleza feminina.
Devido sua ousadia e autenticidade, após o lançamento da campanha "The Real Curves" mundo afora, só em 2004, a Dove obteve um crescimento histórico, de cerca de 700%, nas vendas mundias. Em complemento com a campanha, a empresa encomendou uma pesquisa de comportamento realizada em 10 países com três mil mulheres. Seu resultado foi curioso e alarmante:
- 2% das mulheres entrevistadas se autodefiniram como sendo bonitas.
- 75% das mulheres se autodefiniram como de beleza mediana.
- 50% das mulheres entendiam que seu peso estava acima do ideal.
Como esperado, a campanha publicitária gerou uma série de divulgações, polêmicas, discussões e debates na imprensa e em diversos segmentos da sociedade.
O que é beleza para você? Até que ponto nos permitimos ser influenciadas pelos conceitos de beleza divulgados massivamente pela mídia e seus desdobramentos de comunicação social?
Nós, mulheres, camaleoas do nosso próprio "eu", não podemos nos confundir ou se deixar levar pela realidade transformada, editada e vendida pelos meios de comunicação, de tv, rádio e revistas. A padronização de uma beleza vendida com o único intuito de promoção colateral, quase que subliminar, de uma imperfeição externa feminina e sua necessidade de "transformação", impõe àqueles que "enxergam" mas não "vêem" uma necessidade desenfreada de consumo por produtos de beleza e cosméticos para alcance de uma satisfação e integração na sociedade, que em verdade, não existe e é camufladamente forjada.
Aqui no Brasil, surpreendentemente, a "Dove" teve que reformular sua campanha para atingir seu objetivo, mas ainda assim, não foi compreendida e evidenciada por grande parte da sociedade, que inconscientemente vinculou a proposta da marca às pessoas acima do peso ou com o padrão de beleza entendido como "feio".
Segue aqui um questionamento passível de debate e discussões. Qual é o nosso entendimento acerca da visão de beleza individual? O que é bonito para você? Qual é seu conceito de beleza e qual é o conceito que você compra dela? Até que ponto o padrão exterior de beleza influi na individualidade, integração social e rotina de cada um?
Convido a todos que estão lendo o post, a deixarem sua opinião e crítica sobre o assunto, dificilmente levantado pela sociedade e extremamente necessário para conquista da consciência plena e individual formadora de opiniões e personalidades.
A verdadeira beleza e intuito da Moda, é a integração e exibição singular do indivíduo perante a sociedade, diante da exploração de sua linguagem corporal, comportamental e não falada, exercendo papel fundamental em sua exposição individual e expressiva por intermédio de uma língua oculta e universal, na qual o verbo "Ser" apresenta-se em diversas ramificações de estilos e gostos, cada qual representado de forma única em sua essência.
Incorporei ao post, três vídeos da campanha nos EUA. Alguns de vocês, se já assistiram, vale a pena dar mais uma conferida e refletir sobre o assunto com outros olhos que não somente os da curiosidade.
Espelho, espelho meu...
Aparência:
nome feminino
| 1. | forma exterior de uma coisa ou pessoa; exterioridade |
| 2. | aspecto exterior pelo qual se julga pessoas ou coisas |
| 3. | aspecto exterior de uma coisa, considerado diferente do que essa coisa realmente é; ilusão; disfarce; manter as aparências comportar-se de modo a não revelar uma situação embaraçosa ou sujeita a preconceito social |
(Do lat. apparentìa-, «id.»)
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