06 dezembro 2015

Fora do lugar

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Já á algum tempo venho notando que não me encaixo em lugar nenhum. Não, estou sendo clichê ou me vitimizando, mas já algum tempo venho sentindo essa solidão meio que vazio. A sociedade querendo ou não é um amontoado de círculos, e parece que é normal você fazer parte de alguém. Mas me pergunto muitas vezes (parece que agora mais que nunca),  e aqueles que não se sentem parte deste círculo o que devem fazer?  

Eu cresci em uma cidade distante de minha família paterna ou materna, meus “tios” eram amigos de meu pai ou de minha mãe, e primos muitos deles até antes do Facebook existir eram so rosto que eu podia nomear.  Podia ver alguns nas férias no verão quando ía para o Mato Grosso, e os outros por parte de pai,  cruzamos quer na casa de minha vó ou de minha tia também madrinha, quando íamos em julho ou outro feriado que fosse possível. Sempre fui extrovertida, consigo fazer amizade e trocar telefones com pessoas na fila do banco. Mas não me encaixo em círculos rótulos. Tenho vários interesses, uso meu tempo livre quer lendo, quer escrevendo ou criando.
Já estou casada á quase 4 anos, mas moramos junto  a 6 anos, antes em Luanda e agora em Bergen. As amizades era diferentes, e como não podia trabalhar, me envolvia com outras coisas. Agora morando em Bergen, acredite ou não me sinto mais deslocada que quando morava em Luanda.  Sinto falta do grupo de oração onde podíamos juntas orar umas pelas outras, agora nos comunicamos pelo WhatsApp. Engraçado eu não tinha tantos interesses comuns além do rezar, mas estávamos sempre ali unidas um vez por semana fisicamente apenas para pedirmos e agradecermos a Deus. Eu não me encaixava 100% mas me sentia bem, porque o resultado procurado era o mesmo.  Como não temos filhos não tinha muito o que falar a não ser de minha vida pessoal, viagem minha família. A preocupação de muitas colegas e amigas eram os filhos, enquanto eu o casamento, o Pluto (que nunca passou) e quando poderia viajar novamente. Por conta da criminalidade alta não podia sair muito, até porque o marido insistiu em não comprar um carro (hello moramos la por quase 6 anos, e o carro teria me ajudado muito), alegando que não tínhamos a certeza de quanto tempo ficaríamos por lá. Aqui em Bergen já e tudo diferente, como a cidade e relativamente segura, as mulheres trabalham, saem sozinha a noite, e são super independentes, pra mim até demais (não sou Amélia, mas ir para as noitadas quase toda a semana e deixar marido em casa não é certo né).
  Como em Luanda não tinha como trabalhar (nosso visto como cônjuge não dá a possibilidade de trabalhar, só de moradia no país), tinha que preencher meu tempo com outras coisas, e agente faz o possível pra ser com coisas úteis e também as que lhe me davam prazer. E podia contar com amizades incríveis. A mudança pra Bergen, foi bem conturbada, aqui cada um vive a sua vida, segue seu caminho, marcar um café aqui é quase que missão impossível. Mas reconheço que as pessoas não fazem muita questão, porque como disse antes se pertencer a um grupo ou e queridinha as coisas mudam de figura.
Em Luanda não fazia parte de grupo, porque como dizia antes não preencho os requisitos para esse ou aquele grupo. Pessoas da minha idade tem filhos, ou estão tendo, em condições normais estariam já trabalhando seguindo carreira.  Eu aqui nunca tive amigos noruegueses, aliás mesmo em Luanda, cada um vive no seu mundinho ou redoma (o que preferir), e aqui é pior ainda. Meu marido morou fora por 8,5 (Angola) e veio de uma cidade vizinha antes de se mudar e também não tem amigos de antes. Agora fica ate complicado porque continua trabalhando tanto quanto em Luanda. Não me leve a mal, eu conheci algumas brasileiras, em minha sala de curso de norueguês tem filipinas, uma vietnamita, um chileno, um balinês, um polonês e uma boliviana, bem multicultural, mas o máximo que rola e ir comer na casa de alguém no sábado cedo ou em dia que foi feriado.
Não novamente não estou reclamando, mas são costumes diferentes.
Eu gosto muito de sair ir a lugares diferente, beber um café sabe, quem sabe uma doce fatia de bolo de chocolate (ah na Noruega os bolos são sensacionais) e bater um papo legal.  Mas não encontro meu grupo, e quando penso que achei, vejo que não me encaixo, porque os interesses são completamente diferentes, e quem hoje quer ouvir sobre você ou ter uma discursão construtiva?  Acabo de lembrar e faço um adendo, quando criança gostava de conversar com os idosos da rua, meus vizinhos e passava horas no portão conversando ouvindo histórias e conselhos, ao invés de só passar por eles e ignorar. Conhecia mais gente ás vezes que minha mãe. (Rsrsrs)
As pessoas são tão superficiais, prontas a te chamar de chata por você defender e expor uma idéia, por não compartilhar o mesmo sentimento.
Não me leve a mal, é que gosto de ler, de entender de conhecimento, sou sedente por isso. E sou fora do normal, adoro esporte, carros e animais. Gosto da cor rosa mas me interesso por motores potentes. Adoro filmes românticos mas procuro saber sobre modelos novos de motos. Sinto falta do ensino médio porque jogava basquete, remava e estudava.  Sim sou vaidosa, mas ha dias que um conjunto de moleton e tênis me fazem super feliz. Alguns dias gosto de usar saltos. Mas não me ligo em fofocas, morro de rir com os Kardashians e me interesso por politica.
Ja fui chamada de chata esses dias por expor minhas ideias, porque tenho minhas idéias e não acho legal sair a noite pra balada e deixar marido em casa.  Quando fiz faculdade o professor dizia que tínhamos que ser pensantes e não sentantes e vejo que depois disso, todos devemos ser só sentantes, a partir do momento que pensa, e expõe suas ideias, seja no facebook, Twitter, instagram ou Blog, vão te achar uma categoria, chato, racista, xenófobo, desumano ou que tiver na moda. Quando ter opinião diferente ou não compartilhar mesmos interesses se tornou barreira pra algo? Vejo as crianças sem entender línguas conversam brincam em parques sem se comunicar ou se comunicando de um jeito que é delas,
 É engraçado como quando o assunto não é interessante quando não se trata de escândalos ou de novelas da globo. As pessoas tem um nome pra tudo, e logo acham um pra você. E logo você já não faz parte daquele grupo ou da lista de telefone daquelas pessoas só por ser diferente. Ah você vai dizer está pensando isso porque tem só tem 7 meses que está na Noruega logo as coisas mudam, sempre foi assim. O fato de estar em país estrangeiro é que deixa mais a vista  e passa a te incomodar mais.  Estranho e quando comento com alguém e vem logo a resposta :” talvez o problema seja com você.” E por mais que eu procure eu não acho esse tal problema, não tenho super ego e acho que estou sempre certa. 
E quando vejo pessoas grupinhos, me sinto mal, porque apesar de tentar ficar atualizada com noticias, políticas esportes ter gosto para muitas coisas, não me encaixo, me sinto deslocada. E as vezes esse sentimento é ruim. Me faz perguntar se seria melhor ter apenas comentários fúteis e assistir novelas me faria ter um grupo, um circulo ou milhões de amigos como diria Roberto Carlos. Talvez não um milhão de amigos  mas alguns poucos, que me entendam e aceitem esta diversidade que sou imergida seria um bom começo.


Ps.: Desculpe por não ter escrito antes, ando meio desapontada e como somos só você e eu pensei que não notaria minha ausência.

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