15 novembro 2013

A paz dos inquietos



A alguns meses li esse texto de Danuza Leão, na revista Claudia, e para minha surpresa parecia que era pra mim, sobre mim. Pois sou assim inquieta a ponto de não dormir de sofrer por atecedência, apesar de me policiar acabo ficando ansiosa e confesso ás vezes nem sei porque.
E muita gente não entende isso, ou não me entende inclusive minha mãe (rsrsrs) imagina então abrir a revista e achar o texto te descrevendo e você pensar : "há outros lá fora como eu", não me senti tão louca (!). Deixo aqui o texto para que leiam.




É A INQUIETAÇÃO; ou você nasce com ela ou não, e se nasceu, vai passar a vida inteira com uma pressão no peito e outra na alma, querendo entender e não entendendo, trocando de casa, de objetivo, de marido e de analista, sem chegar, nunca, a uma conclusão.
Um inquieto não tem sossego: se é pobre, gostaria de ser rico, se é rico, acha que o dinheiro atrapalha e que talvez fosse mais feliz se morasse numa pequena cabana. Se é inverno, ele se lembra com saudades do verão, mas se está debaixo do mais lindo sol, pensa em como seria bom se estivesse em Gramado no inverno, de botas, tomando um chocolate quente. Não é que ele queira sempre o que não tem; apenas não consegue viver o momento presente -não em paz. Ou está lembrando do passado ou pensando em como vai ser bom quando o futuro chegar. É duro fazer parte da tribo dos inquietos.
Com eles não há risco de monotonia; acordam te sufocando com beijos e abraços ou na mais fria das indiferenças, e o pior: sem saber o porquê. No meio do dia podem telefonar como a mais dócil das criaturas, sem conseguir explicar por que foram tão insuportáveis horas antes. Nem explicar, nem entender. É dura a vida dos que vivem perto de um inquieto.
Mesmo quando está tudo bem -o amor perfeito e o trabalho legal, alguma coisa atrapalha: é a tranqüilidade. Como é possível alguém viver em paz e em harmonia com as pessoas e com o mundo? Difícil de responder.
Difícil, a vida dos inquietos, e ninguém imaginaria o quanto essas pessoas tão vitais -porque vitalidade é o que não lhes falta- sofrem, mas que ninguém confunda sofrimento com infelicidade. Nada a ver. Para eles nunca há paz; há momentos de intensa e fugaz felicidade, mas paz, nunca. O grande momento dos inquietos é quando eles começam a planejar uma mudança de vida, seja essa mudança quebrar uma parede, mudar de profissão ou de país.
Eles vivem em eterna tensão, para o bem ou para o mal; só não podem é ficar parados. Os inquietos não se conformam com nada que se pareça com a estabilidade, e por isso os caminhos que escolhem, sejam eles quais forem, são sempre os mais difíceis. Os inquietos não sabem viver sem uma complicação, e a luta para eles é sempre melhor que a vitória.
Eles não compram, jamais, uma casa de campo pronta, mas um terreno; levam dois anos para construí-la e mais dois fazendo o jardim, decorando etc. No dia em que ela fica pronta, as flores crescidas, ele sente um grande vazio -que só se resolve quando encontra um comprador.
É que assim eles passam a maior parte da vida, com algumas pausas para refletir por que são assim e como poderiam se aquietar, para serem mais felizes; para encontrar uma certa paz, talvez -só que não conseguem.
Mas um dia eles compreendem que essas pausas foram tempo perdido e teria sido mais simples se tivessem reconhecido, há muito mais tempo, que com eles não há nada a fazer, e que é impossível mudar.
E é melhor que não saibam nunca: se souberem, terão, de uma certa maneira, encontrado a tal da paz -o que para eles pode ser fatal.



O Texto tirei daqui, que também está na revista Claudia de setembro de 2013

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